" A poesia invadiu o caos
e lá encontrou sua morada".
ELIANE TONELLO
Momento Cultural "Poema Encontro" - 1ª Jornada de Psicologia no IPA - 12/05/2011.
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90 anos do IPA
Eliane Tonello
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"Foi em 1923
Aqui no alto do rochedo
Chamado por muitos de “Morro Milenar”
Entre Lucas de Oliveira e Casemiro de Abreu
Nasceu o Centro Universitário Metodista IPA
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Entre o encontro das correntes de ar do Sul e do Norte
Neste ambiente de saber
Onde o vento alisado sopra e segue em forma de espiral
Pelos caminhos de pedra cruzados
E casas de pedras habitadas
Que se dissipa entre as árvores quase centenárias
Onde os pombos encontram alimento entre as pedras e flores
Aqui a diversidade tem espaço
Abrigando “estrangeiros” que percorrem o mundo sem fronteiras.
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É um lugar bem em cima da rocha
Onde o astro rei chega cedo
Acalenta com seu manto, abraça culturas e reveste incertezas
Onde as intempéries produziram fissuras
Das quais brotam flores, saberes e esperanças
Daqui posso ver a capital portoalegrense, ruas, parques e avenidas
E o magnífico pôr-do-sol refletindo nas águas poluídas do Guaíba.
Nós estudantes que por aqui cruzamos
Entre as casas de pedras
Na busca de melodias e tons no subjetivo tempo
Vagamos em caminhos rochosos
Onde há diferentes árvores floridas
E lindos tapetes roxos e amarelos
Embelezando coloridos caminhos
Enquanto sabiás e bem-te-vis
Sassaricam entre um galho e outro
Disputando espaço com o estridente “canto” das cigarras.
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Hoje aos 90 anos
Em meio à globalização de saberes
Sobre estas pedras-ferro
Bem próximo do céu anil
E num bater do sino
Entre o cantar dos animais
Brotam lavas efervescentes que refulgem sonhos
Graças à feição do vento
Escorre o saber pelos vales
Transbordando fronteiras
E por onde passa
Deixa rastros de humanização
E nas montanhas ecoa notas de inclusão."
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Prêmio Juan Sebastian Kern, recebido pelo artigo: "Existe alguma relação entre Alexitimia e câncer de mama?", publicado na Revista Rabisco de Psicanálise.
"Receber este Timão
Demanda navegar
Desbravar horizontes
Movimentar saberes
Consentir rastros
Ondas concêntricas
Gratidão
Amor que Ampara
Palavra que Comporta
Colo que Nutre
Seio que Revigora
Olhar que Cura
Sorriso que Previne
Essência do Humano
“Quando olho, sou visto; logo existo”
Eu sigo meu caminho
Tecendo Sonho"
Eliane Tonello - junho 2016
"Tecendo a Sanidade: o caso Arthur Bispo do Rosário" no "1º Sarau a céu aberto", em 7 de janeiro de 2017 , na Praça da Alfândega, Porto Alegre /RS.
Prêmio Destaque Literário Novo Autor 2016 Poemas à Flor da Pele.
62ª Feira do livro em Porto Alegre
....em Feira do Livro
...em Lago Negro - Gramado.
Poesia inspirada no PIM é publicada em livro
Publicações
Com título “Simplesmente…Assim”, a psicóloga Eliane Tonello escreveu poesia sobre a relação entre mãe e bebê inspirada pelo trabalho de atendimento do Primeira Infância Melhor (PIM) a uma família da Macrorregião Metropolitana. Os versos foram publicados recentemente no livro de coletâneas ‘Poemas à Flor da Pele’.
A ideia surgiu depois que Tonello escutou relato da então supervisora de Pesquisas e Parcerias Externas do PIM, Giuliana Chiappin, de atendimento a família em situação de extrema vulnerabilidade observado durante visita domiciliar. As observações foram relatadas no comitê ‘O Psiquismo dos Bebês’, que acontece semanalmente na Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS) e é coordenado por Chiappin.
Durante discussão sobre questões socioemocionais dos bebês no encontro da SPRGS, a vivência observada foi relatada. “Ao ouvir o relato, sensações e percepções foram acionadas de tal maneira difícil de serem processadas. Foi através da poesia a forma encontrada para simbolizar tais sentimentos”, destacou Tonello.
De acordo com Chiappin, é a experiência das famílias se transformando em arte. “É incrível ver a habilidade que Eliane teve de transformar a dor emocional do bebê em poesia. Bebês e crianças pequenas precisam dos adultos para dar nome e significado aos sentimentos e sensações. Eles dependem dos adultos para sua regulação emocional. Mas antes de mais nada, precisam ser vistos!”, afirma. Ainda sobre a publicação, Chiappin pondera que os mais diversos fatores de vulnerabilidade impedem os adultos de estar atentos às necessidades de suas crianças. “Assim como a autora transformou dor em arte, o PIM transforma vulnerabilidade em vidas mais saudáveis”, conclui.
Um ano de realizações significativas para muitos autores que estiveram autografando ou tiveram seus livros expostos nas barracas. Destaco uma jovem de presença marcante: Eliane Tonello. Ela lançou o livro Tecendo a sanidade: o caso de Arthur Bispo do Rosário (Casa Editorial Luminara), no qual se detém em peças artesanais criadas pelo genial Bispo, inclusive do magnífico Manto de Apresentação,“cobertor que ele bordou ao longo da existência para usá-lo ao fim dela”. Essa foi apenas uma das tantas realizações da autora neste ano.
MEMÓRIAS INUNDADAS DE SENTIMENTOS *, de Eliane Tonello**, apresentada por Maria Helena Martins
Escritores Gaúchos
É final de outubro, os raios inclinados do sol evidenciam o colorido dos jardins e os longínquos campos de pasto. A semana fora com chuvisco, alternada com curtíssimos períodos de sol, quando as roupas puderam balançar ao vento no varal de nylon azul. Os sabiás já apresentam suas diferentes melodias, saltitam entre um galho e outro das limeiras.
É dia 31, dia de colheita.
A mãe, já com alguns fios de cabelo brancos, respira ofegante quando se movimenta para jogar o lençol na cama. O almoço que fez para a família não agradou. Mas, calados, eles limparam o fundo das panelas sobre a toalha xadrez. Um por um, levam o prato até a pia e saem. A mãe tira a sesta e depois, a passos curtos, passa por entre as parreiras e vai até a lavoura, não muito longe da casa. O cachorro, Lobo, com fama de valente, a acompanha, assim como a gata de nome A Cor da Gata. A cada passo a mãe pensa que seria a primeira vez que não recorreria às mãos habilidosas da parteira que auxiliara no nascimento de quase todos os filhos. Agora, a cidade é outra. Só há dois meses tinham feito mudança, preferia ser atendida no hospital.
A mãe só observava os filhos transportando a palha que em breve iria ser amassada na lona e eu, no meu mundo de caverna, sinto somente barulhos, batidas. Fico encolhidinha, com o dedo na boca e me acalmo. Essas batidas intercaladas e contínuas ecoavam na terra, quando meu pai, com o manguá, antigo instrumento utilizado pelos camponeses em colheitas, batia na palha seca, onde estalavam as sementes de fava.
Há alguns dias a mãe vinha indisposta, com dificuldade até para dormir, e eu, impaciente por estar bem próxima de suas costelas. Agora, passada meia-tarde, a mãe sente os olhos escurecerem e a dor intensifica no baixo ventre. Enquanto procura se apoiar nas sacas de sementes escorrem-lhe gotas mornas e avermelhadas por entre as pernas. Sinto uma sensação estranha pelo corpo, uma pressão no peito e na cabeça. O ar fica escasso. Acho que está encerrando meu tempo por aqui. Prontamente a lona e o manguá são recolhidos junto com as sementes e, em apenas um lance, são jogados sobre a carreta de tábuas lisas. Os animais, experientes, já se encontram em prontidão, até parecem intuir que eu estou prestes a nascer. Com passos mansos percorrem o caminho lomba abaixo, delicadamente, chegam bem próximos da casa. A mãe prepara-se para descer apoiada em um dos meus irmãos que a leva até o chuveiro. Na espera, junta numa toalha clara que fora reservada e na mala verde e branca colocam roupas grossas. Iniciamos longo percurso com curvas, elevações e baixadas. O tempo pareceu eterno e o desconforto imensurável. Enfim, chegamos à cidade onde os paralelepípedos cobrem a estreita avenida. A sala de parto estava à nossa espera. Nesse momento, com uma forte pressão na cabeça, sinto que, de agora em diante seria por minha conta. Retomo as forças e, com a máxima rapidez para a corrida inicial, dou aquele impulso. A luz bate em minha retina, incômoda; o respirar arde profundamente. Mergulho num mar de angústia e choro. Sinto frio, mas logo o arrepio cessa sob um lençol quentinho. Sinto medo enquanto a enfermeira desobstrui minhas narinas e desliza com pano macio em meu corpo. Entre um sussurro, me sinto como se estivesse perdida, tento pegar o céu. Só me acalmo quando reconheço a voz da minha mãe, no acalanto dos braços dela, momento que nunca mais voltará. Ela se emociona quando nossos olhares se encontram. Ao notar a cruz na parede, suspira e beija minha bochecha rosada. Com a voz sussurrada pergunta: “está com fome?” O seio surge na minha frente. De início ignoro-o, mas, aos poucos, encosto nele e percebo que o bico está ótimo. O sono vai chegando e nós duas adormecemos. Dizem que o sono extingue as mazelas naturais e as dores do coração. Dormir, talvez sonhar!
Na madrugada, choro e enquanto ninguém aparece chupo o dedinho. Ouço barulhos, só mais tarde entenderia que era o sono profundo da minha mãe. Com fome, choro mais alto e fico com raiva. Só a enfermeira escuta, me pega no colo e leva até a fonte do prazer. Com o tempo aprendi que desta forma ele, o leite, viria quentinho. No silêncio da madrugada, repouso no cheiro dos braços da mãe. Só no ar matutino, no cantar do galo, que somos despertadas para o começo de uma nova vida. Já é o dia de todos os Santos!
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*Trabalho apresentado na Jornada anual de 2015 da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS)
** ElianeTonello é Psicóloga CRP 07/21706, Psicoterapeuta, Especialista em Psicologia Hospitalar,
Coordenadora do Comitê de Psicologia da Saúde e Hospitalar na SPRGS, Escritora.
Ganhadora do Troféu Destaque Literário Novo Autor 2016 - Poemas Flor da Pele
Quem lida com a alma humana, como profissionais da dita área PSI, às vezes esquece da razão primeira de sua função. Importa mais, para alguns desses “interlocutores teoricamente depositários da solução de problemas”, uma postura distanciada, uma escuta quase funérea diante do paciente, um discurso em “psicologuês”. Já o paciente, na expectativa de uma ajuda, um consolo ou de uma orientação, não raro ouvem interpretações que lhe parecem muito distantes de sua realidade e mesmo de suas fantasias ... Mas não é desse quadro que quero tratar. Ao contrário, meu propósito é salientar aspectos da escrita literária da autora , ao cuidado com a linguagem , que permite ao leitor supor aspectos de seu perfil profissional. No caso, evidencia-se, de modo sutil e estético, a capacidade da empatia, um dos meios mais profícuos para atingir a alma humana. Tem-se então ideia de que, ao elaborar literariamente exemplo dessa capacidade – tudo indica que de modo conscientemente intencional, visto o texto ser apresentado como trabalho num evento da Sociedade de Psicologia do RS – a autora expõe uma amostra convincente de suas qualidades como escritora e como psicóloga.
Eliane conquistou também o Troféu Destaque Literário Novo Autor 2016 - Poemas Flor da Pele.
Maria Helena Martin
Publicado em CELPCYRO - Centro de Estudos Cyro Martins
Colocada ali com prazer
Entre milhões de iguais
Não tive outra alternativa
Busquei forças nas profundezas do meu ser
Mesmo cansada
Enfrentei barreiras
Ultrapassei membranas
Cheguei no pódio
As células multiplicaram rapidamente
Fui gerada
Criei o meu mundo
Entre tantas cores
Eu nasci.
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Gratidão!
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Eliane Tonello
20/01/2017
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HOMENAGEM NA CÂMARA DE VEREADORES DE RONDINHA - OUTUBRO DE 2018 .
PROJETO “CRIATIVIDADE EM PAUTA”
DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL -OUTUBRO 2019.
1º IMAMA verão:
O câncer não tira Férias-
Praia de Tramandaí/RS.
Verão
Mama
Imama
Câncer
Sem férias
Sombrinhas
Prevenção
Cuidado
Reciclagem
Corpo
Emoção
Ação.
Eliane Tonello
verão de 2017
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Lançamento Internacional em 2017
Posse na Associação Portuguesa de Poetas em Lisboa.
Posse na ALALS- Académie de Lettres et Arts Luso-Suísse (Genebra).
Sarau Poético - Dia Internacional da Mulher - 8 de março.
Mulheres Guerreiras
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Mulher bicho esquisito
de coração mole
sensível de nascença
substituível
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Mulher que gera
cuida e nutre
admirável completa
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Mulher que perde o seio
mas não perde a cabeça
nem a experiência
e a vontade de viver
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Mulheres de 15, 20, 40, 70 e 90
que lutam por seus direitos
sonham com o # acesso já
à prevenção e o cuidado.
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Eliane Tonello
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"Troféu Imprensa Sem Fronteiras", Categoria Literatura.
Mensão Honrosa:
"Poema Viagem Intrauterina".
Uma Viagem Intrauterina
Memórias expeliram-se
bolhas cintilantes de meu psiquismo
após quarenta primaveras
a cena do manguá ainda há de aguçar
certa perplexidade
como a fruta que amadurece e cai
o que dá sentido à vida se esconde nos emaranhados químicos
transforma histórias em palavras
e enunciam: eu estive aqui
As cintilâncias do astro rei sobre os campos
alegram os que regorjeiam nos galhos das limeiras
a mãe de cabelos de prata, em delicados movimentos,
estende o lençol, pensa na mala que está por fazer
as pupilas-gustativas inibem-se
sobre a toalha quadriculada
taças de vinho, fundo de panela à mostra
entorpecida, sesteia no encosto da almofada
o bebê aconchega-se
na escura caverna onde nem cambalhotas poderia dar.
No roçar de uma unha à outra
escorada nas bolsas de linho
as sementes de fava explodiam na palha seca
pelas batidas do manguá
os ecos da terra-mãe
ultrapassam membranas
o feto encolhe-se
o líquido avermelhado escorre entre as pernas
e na tábua lisa da carreta
o nutrir da família
Passos curtos
o cachorro lobo e valente
a gata de nome “a cor da gata”
caminham pelos canteiros de rosas, palmas coloridas
a lavoura se descortina
entre videiras
minha mãe quebra cascas excedentes
brotos e cachos miúdos enrolados no arame
e nela desfilam
as imagens dos nascimentos dos filhos
Sangue, veia umbilical, molejo do bebê
exílio do ventre
manancial de alimento
voz forte, o mundo à espera
a corrida inaugura-se
muitos ficaram para trás
busca da existência no escorregadio canal
o horizonte respiratório
Choro intenso
circulação, pulmões, sopro vital
realidades reinventadas e perdidas
quero pegar o céu
na voz incógnita, à meia-luz
bochechas rosadas
louvor ao corpo perfeito
à imagem de Cristo
Olhos cor da noite
cintilam, conectam-se
à voz cansada
- está com fome?
o peito farto hipnotiza
lábios embriagam-se
no cheiro da madrugada
silêncio, a raiva insinua-se
mescla-se ao sono da mãe
mas repousa no calor dos braços
Ar matutino
o galo e as boas-vindas
despertam-me no dia de todos os santos
Poesia na mesa - "Pink Dinner IMAMA", Country Clube, Porto Alegre/Rs - 2018.
CASA ROSA
Eliane Tonello
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Óh, Casa Rosa
Sabes tu
das lágrimas que transbordaram
angústias que aqui ficaram
dores que lamentaram
medo que a esperança levou
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Sabes tu
das perucas emprestadas
lenços que doou
sorrisos que roubou
exames que encaminhou
​
Sabes tu
das reuniões que abrigou
voluntárias que palestraram
mamografias que recomendaram
maletas que pelo umbral passaram
​
Sabes tu
soluço que cessou
carinho que amparou
vidas que salvou
Óh, Casa Rosa!
​
Exposição "Arte em Movimento: Porto Alegre de cenário à personagem" de Jeannine Krischke e poesias de Eliane Tonello inspiradas em suas obras.
31 março 2019